Por: Eliseu Gardin
Todo ambiente possui algum risco e o corporativo não seria uma exceção, por isso, para assegurar uma jornada de trabalho com mais segurança, o Ministério do Trabalho e da Previdência (MTPS) determinou algumas práticas. Cada tipo de empresa/serviço possui uma regulamentação que deve ser seguida com muita responsabilidade, e a estabelece da maneira que mais lhe for cabível. No ramo supermercadista, que é o que abordaremos mais especificamente, essa pauta vem ganhando força e ocupando espaço na comunicação interna e cultura organizacional.
Existem dois tipos de riscos mais recorrentes nesse tipo de negócio: os ergonômicos e os físicos. Nos supermercados, eles se encaixam principalmente em:
- Riscos ergonômicos: Levantamento peso e Postura inadequada.
- Riscos físicos: Exposição ao frio e Excesso de calor no ambiente.
De forma mais específica, pode-se ressaltar que quanto aos riscos físicos, o uso de proteção individual e o tempo de recuperação térmica devem ser respeitados. Já para os ergonômicos, todos os colaboradores que realizam movimentos repetitivos durante suas jornadas devem receber um olhar mais cauteloso, e é recomendado uma leitura atenta da Norma Reguladora n°17 que trata exclusivamente desse assunto.
A prática de segurança e saúde do trabalho tem o objetivo sobretudo de tornar o ambiente de trabalho mais seguro e saudável para o trabalhador e consiste em uma determinação do atual Ministério do Trabalho e Previdência e Previdência. Quando falamos sobre segurança do trabalho falamos especialmente sobre a saúde do trabalhador no ambiente de trabalho sob as determinações deste ministério.
O Ministério do Trabalho e Previdência e Previdência é o órgão responsável pela elaboração das normas de segurança e saúde do trabalho nos mais diferentes ramos de atividade. As medidas determinadas têm o objetivo de reduzir o número de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais desenvolvidas pelos trabalhadores em seus ambientes de trabalho.
O assunto segurança e saúde do trabalhador (SST) tem ganhado espaço por ter se provado um bom investimento para as corporações e hoje se destaca como uma pauta importantíssima, chegando a fazer parte intrínseca à cultura organizacional. Colocar em prática medidas de segurança e saúde do trabalho em supermercados acaba sendo excelente para garantir o bem-estar dos seus trabalhadores e reduzir com isso os afastamentos e os gastos decorrentes.
Quais são os riscos?
Dentro de um supermercado, além da fiscalização da Vigilância Sanitária existem diversos setores que necessitam de mais cuidados por sua grande incidência de riscos, são eles: a padaria, a confeitaria, o açougue e o estoque.
Conforme os setores destacamos acima, esses locais sofrem com a maior incidência de acidentes em supermercados. Os equipamentos utilizados em todos estes ambientes devem ser homologados de acordo com a Norma Regulamentadora nº 12, que é a responsável pela segurança em máquinas e equipamentos em geral. Dentre as determinações da norma, está por exemplo não realizar alterações nas devidas proteções das máquinas e a respectiva sinalização. O maquinário que se enquadra nos requisitos desta Norma Regulamentadora deve ser devidamente identificado e apresentar os pontos de risco de acidentes anunciados.
A área de açougue, entre todos os demais ambientes, é certamente o que apresenta maior índice de acidentes em um supermercado. Isso se justifica porque o colaborador está constantemente manuseando máquinas ou ferramentas manuais de corte.
Além disso, os funcionários que atuam nos açougues também podem possuir acesso às câmaras frias, que trazem significativos riscos por si só. As câmaras frias conservam alimentos abaixo da temperatura suportada por um ser humano sem que haja a devida proteção térmica. Tanto para a exposição ao frio quanto aos acidentes decorrentes da manipulação de objetos cortantes, existem medidas e sistemas de proteção específicos. E devem estar homologados e adequadamente em plenas condições de uso com base na NR-12.
Exemplificando melhor, você deve estar se perguntando quais são os riscos dentre cada um desses setores já mencionados que os trabalhadores de supermercado efetivamente estão expostos. Quais mais temos?
O açougue é um setor onde há a ocorrência de alguns acidentes, como cortes e perdas de dedos e mãos. Isso ocorre pelo fato de o colaborador trabalhar com máquinas de corte e facas muito afiadas, que são utilizadas na manipulação das carnes.
Confira quais são os equipamentos fiscalizados nesses ambientes e os EPIs necessários para trabalhar com segurança nos açougues:
- fatiador de frios e de bifes;
- amaciador de bifes;
- serra-fita;
- moedor de carnes;
- seladora a vácuo;
- avental;
- bota de PVC;
- luva de malha de aço;
- touca descartável.
Os perigos para padeiros e confeiteiros
Como acontece no açougue, na padaria e na confeitaria, o maquinário também deve ser homologado de acordo com a NR12. A instalação das máquinas deve ser em local plano e sinalizado. Além disso, o equipamento deverá ter dispositivo que indique se o maquinário está ligado ou não.
O maquinário fabricado, conforme a NR12, deve ser provido de proteções para o usuário, ou seja, ter a indicação das áreas de risco, conforme o equipamento, e botão de parada de emergência em ambos os lados. Confira alguns itens que merecem atenção:
- masseiras;
- batedeiras;
- cilindros;
- modeladoras;
- laminadoras;
- fatiadoras para pães.
Conforme está prescrito na norma regulamentadora, os equipamentos devem ser protegidos e as peças e os acessórios móveis ou fixos devem ser intertravados. Assim sendo, se houver algum risco para o trabalhador, o maquinário para de funcionar, protegendo o usuário.
A seguir, veja os EPIs necessários para trabalhar com segurança nas padarias:
- avental de napa;
- bota de borracha;
- luvas de borracha;
- luva de malha de aço;
- luva térmica;
- máscara filtrante;
- sapato antiderrapante;
- touca descartável.
Os perigos para o estoquista
Diversos acidentes envolvendo os trabalhos nos estoques de mercadorias são referentes a patologias musculoesqueléticas. As lesões nas costas e nos ligamentos são resultado de algumas práticas, como elevação de produtos de maneira inadequada, movimento repetitivo ou esforço excessivo.
A seguir, veja alguns critérios que devem ser incorporados pelos colaboradores na rotina de trabalho do estoque:
- para levantar cargas, mantenha as mercadorias próximas ao corpo;
- use luvas térmicas para manusear alimentos congelados;
- utilize joelheiras no momento de arrumar as prateleiras mais baixas;
- suba na escada para alcançar os produtos nas prateleiras mais altas;
- utilize carrinhos do supermercado para transportar os produtos até as prateleiras;
- organize as prateleiras de modo que os itens mais pesados e os mais leves fiquem em locais de fácil alcance;
- segure caixas ou sacolas com pegador de mão, sempre que possível.
Agora, confira os EPIs recomendados para trabalhar com segurança no estoque:
- capacete;
- botas;
- óculos de proteção;
- luvas;
- protetor auricular.
Diante desse geral sobre os riscos, segurança (EPI´s) nos supermercados, você pode estar se questionando como de fato aplicá-la em seu estabelecimento. Isso pode ser feito contando com alguém capacitado em segurança do trabalho. Trata-se, portanto, de uma garantia a mais para sua loja em relação à segurança. Além disso, a presença desse profissional ajuda a loja a realizar as atividades de forma mais precisa.
Afinal, o que faz um profissional em segurança do trabalho?
Seja técnico, tecnólogo ou engenheiro, o profissional em Segurança do Trabalho tem como missão a inspeção das instalações físicas e equipamentos de uma empresa. O objetivo é se certificar de que as leis e normas brasileiras estejam sendo cumpridas.
Em tempos de pandemia provocada pelo coronavírus (Covid-19), os supermercados adotaram algumas medidas para evitar a propagação do vírus e de outros riscos biológicos. Higienização das mãos por parte de funcionários e clientes e limpeza de carrinhos, checkouts e cestinhas, por exemplo, agora são vistos e realizados por todos.
Apesar de estar se dando maior atenção aos riscos biológicos no momento, por motivos óbvios, o profissional de Segurança e Saúde do Trabalho deve continuar a fazer o reconhecimento dos riscos ambientais (físicos, químicos e biológicos) aos quais os trabalhadores que laboram em supermercados estão expostos em seus setores de trabalho.
A seguir, há alguns exemplos da exposição ocupacional desses trabalhadores aos riscos ambientais:
SETOR | RISCOS |
Açougue | Ruído contínuo ou intermitente, frio e vibração de mãos e braços (serra de fita) |
Caixas (Checkouts) | Ruído contínuo ou intermitente |
Cartaz | Substâncias químicas diversas e vapores orgânicos |
Cozinha | Calor, frio e hidróxido de sódio |
Depósito | Calor e vibração de corpo inteiro (empilhadeira) |
Estacionamento | Ruído contínuo ou intermitente, calor e monóxido de carbono |
Hortifruti | Frio |
Laticínios | Frio |
Manutenção | Ruído contínuo ou intermitente, ruído de impacto, calor, gases refrigerantes, substâncias químicas diversas, vapores orgânicos e agentes biológicos |
Padaria / Confeitaria | Calor, frio e poeira de farinha (de trigo) |
Salgados | Frio |
Resíduos | Ruído contínuo ou intermitente, substâncias químicas diversas e agentes biológicos |
Serviços Gerais | Cloro, hidróxido de sódio, substâncias químicas diversas e agentes biológicos |
Além dos riscos ambientais, é fundamental reconhecer e avaliar os riscos ergonômicos em conformidade com a Norma Regulamentadora no 17 (Ergonomia) que aborda, entre outros parâmetros: a) Levantamento, transporte e descarga individual de materiais; b) Mobiliário dos postos de trabalho; c) Equipamentos dos postos de trabalho; d) Condições ambientais de trabalho; e) Organização do trabalho. Há ainda o Anexo I da NR-17 que dedica especial atenção ao trabalho dos operadores de checkout.
Diante do exposto, para garantir integralmente a segurança e saúde no trabalho dos profissionais que trabalham em supermercados, todos os riscos ambientais (físicos, químicos e biológicos) e ergonômicos devem ser reconhecidos e avaliados quando da elaboração do PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) e do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional).
É possível prevenir? Sim. Através da identificação e análise dos riscos é possível com isso agir para reduzir os riscos os quais os trabalhadores estão expostos e com isso reduzir as chances de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Com isso são eliminadas igualmente ambientes inadequados e inseguros dentre outras coisas que podem colocar todos os colaboradores em risco.
Por isso, é necessário ter muita atenção, paciência e dedicação. Essa profissão exige bastante responsabilidade, pois um técnico pode evitar acidentes e salvar vidas com os seus conhecimentos sobre segurança e saúde do trabalho.
A vantagem também está ligada a fatores econômicos. Quando o supermercado investe em medidas de segurança, os gastos que podem ser gerados pelos acidentes de trabalho diminuem.
De olho nos bastidores de um supermercado: Exemplos de acidentes
Para que você possa ter uma ideia dos acidentes os quais os trabalhadores podem sofrer em tais locais, reunimos a seguir alguns exemplos de riscos ocupacionais que podem acometer trabalhadores de supermercados.
Em janeiro de 2020, um funcionário de um açougue, de 35 anos, sofreu um acidente de trabalho, no bairro Calafate, em Rio Branco. Segundo o Corpo de Bombeiros, o homem teve os dedos presos na máquina de amaciar carnes e precisou ser resgatado pela corporação. Fonte: (https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2020/01/29/funcionario-de-acougue-fica-com-mao-presa-em-maquina-de-amaciar-carnes-no-ac.ghtml).
O major do corpo de bombeiros faz um alerta: “Esses acidentes acontecem muito. Às vezes, as pessoas não utilizam luvas e quando usam, muitas vezes, são aquelas de material bem fino, então não protege muito. A gente sabe da experiência que eles têm, mas normalmente acontece devido à autoconfiança. Os cuidados que têm que ter é usar os equipamentos de proteção, ficar não ficar se distraindo, porque são nessas distrações que acontecem esses acidentes”.
Outro exemplo de acidente ocorreu no mercado Mix Mateus Atacarejo em São Luis (MA), houve desabamento de prateleiras. Conforme imagens do circuito interno, as gondolas começaram a cair em um dos corredores, num efeito domino. O operador de empilhadeira que fazia o serviço de carga e descarga de mercadorias morreu e quatro ficaram feridas. Fonte: (https://santaportal.com.br/geral/prateleiras-com-produtos-desabam-em-supermercado-e-deixam-um-morto/).
Um risco ocupacional muito comum no ramo de supermercados diz respeito a exposição dos trabalhadores ao frio ou às baixas temperaturas internas das câmaras frias. Os trabalhadores que exercem esse tipo de trabalho nesse ambiente devem receber a devida proteção individual para evitar o adoecimento ou acidentes de trabalho.
Para o caso de transporte de produtos de temperatura normal para as câmaras frias é fundamental que se respeite o tempo de recuperação térmica para proteção dos trabalhadores, após acessar e permanecer dentro destes ambientes.
É importante entender o quanto a segurança e saúde no ambiente de trabalho são assuntos inquestionáveis, que precisam ser levados a sério. Além da conscientização em relação aos impactos positivos que isso acarretará no clima organizacional, e na diminuição de custos com ausências justificadas e acidentes.
Para melhorar a segurança do trabalho em supermercados
Para melhorar a segurança nos supermercados e igualmente reduzir com isso os riscos ocupacionais algumas ações podem ser tomadas de imediato. Abaixo listamos algumas que podem fazer a diferença e evitar que acidentes aconteçam bem como que os colaboradores desenvolvam doenças ocupacionais.
Identificar corretamente os riscos é o primeiro ponto. Somente a partir da identificação assertiva dos riscos os quais os trabalhadores estão expostos acaba sendo possível determinar as medidas tomadas para mitigá-los. E com isso proteger de forma mais completa os trabalhadores em seu ambiente de trabalho.
Por isso, algumas verificações globais podem ser feitas, veja:
- Verifique se os pisos das áreas de circulação e de armazenamento ficam demasiadamente escorregadias. Se os colaboradores em um determinado ambiente carregam peso. Se há proteção para a realização dos cortes de carnes e frios e congêneres;
- Sinalização para áreas: áreas que podem trazer riscos de maneira adequada para reduzir as chances de acidentes. locais onde há limpeza sendo realizada e o piso está eventualmente escorregadio ou molhado deve ter um aviso informando. Assim como locais com agentes químicos ou alta tensão;
- Treine os colaboradores sempre que se fizer necessário. Forneça treinamentos sobre políticas de segurança e saúde no ambiente de trabalho para todos os seus colaboradores e mantenha-os sempre atualizados. Sobretudo os recém-contratados.
Lembrando que isso é uma pauta que não pode ser deixada para amanhã!
Afinal, só conseguimos agir perante alguma coisa quando a entendemos. Sendo assim; elaborar um mapa de risco é, sem dúvidas uma das ações mais uteis que podem ser realizadas a princípio.