O novo conceito na alimentação que vem transformando o comportamento dos consumidores, a produção nas indústrias e as vendas nos supermercados.
Por Eliane Carone
Os hábitos alimentares são parte do processo evolutivo dos seres humanos, hábitos esses que vêm se adaptando às necessidades, condições e apelos de cada época. Paralelo ao desenvolvimento da produção de alimentos, é fato que os hábitos de nutrição pelo homem também vieram se modificando: ininterruptamente, desde a sua existência; e aceleradamente, com a industrialização dos suprimentos.
A história da alimentação, na verdade, se confunde com a própria história do homem na Terra, através dos tempos: desde a coleta de frutos silvestres, raízes e vegetais, e a caça e pesca para a sua sobrevivência; passando pela revolução do cozimento, com a descoberta do fogo, muitos fatores e mudanças ocorreram para chegarmos até aqui, comendo o que comemos hoje.
A revolução industrial, a partir do século 18 na Inglaterra, por exemplo, teve impacto mundial e direto na agricultura e na agropecuária, fundamentais para a espécie humana que se alimenta de animais e vegetais. Pois a tecnologia para o desenvolvimento de máquinas de produção, e futuramente o surgimento das indústrias alimentícias, mudaram totalmente a rota na transformação dos alimentos, até então produzidos artesanalmente.
De lá para cá, quatro séculos se passaram e a industrialização dos alimentos e bebidas só cresce e se aprimora dia a dia para atender o consumo de populações mundiais cada vez maiores. O quantitativo dessa produção de suprimentos é absolutamente incalculável e necessário para o sustento da nossa espécie. Em contrapartida, o qualitativo de muitos desses produtos fomenta, historicamente, muitas críticas, dúvidas, estudos e discussões.
E não é para menos! A conta da progressiva incidência de males como diabetes, pressão alta, colesterol elevado, obesidade, doenças cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais (AVC), no mundo contemporâneo, vem sendo creditada aos alimentos processados, salgados e açucarados pela indústria alimentícia ao longo dos séculos.
Os Hábitos Alimentares
Com a industrialização dos alimentos, portanto, as pessoas passaram a consumir enlatados, embutidos, muita gordura saturada e trans, muito sódio, glicose e carboidratos utilizados nessa fabricação. A imensa e crescente quantidade de produtos prontos nas prateleiras fez com que as pessoas criassem o hábito nessa alimentação prática, gostosa, moderna e também condenada por muitos.
O combate aos malefícios causados à saúde e ao corpo por esses alimentos, e os apelos que começaram a surgir por uma vida saudável e corpos magros no fim da década de 70, começo dos anos 80, foram movimentos importantes que pregavam a prática de exercícios físicos e alimentação leve. Foi o estopim de um novo tempo que, paralelo ao crescimento da indústria alimentícia, criou uma onda de novos e múltiplos hábitos alimentares, com adeptos cada vez mais numerosos no mundo todo.
Assim vieram os alimentos sem aditivos e conservantes, sem glúten, os funcionais, integrais, antioxidantes, cereais, com menos sal e calorias, mais nutritivos, os light, diet, sem lactose, os fitness e lowcarb…Assim também foram enaltecidas as frutas, verduras, os legumes e leguminosas, as vitaminas e os minerais, os sucos detox e os produtos orgânicos… Assim, sobretudo, foram sentenciados as gorduras, frituras, os açúcares e os carboidratos, os óleos vegetais, a margarina, os Fast Food. Assim, inclusive, cresce o número de vegetarianos e veganos pelo mundo, estes últimos com hábitos revolucionários no preparo de receitas saborosas sem qualquer produto de origem animal.
Mas a indústria alimentícia não se abateu, nem deixou de surfar nessa onda. Ao contrário, é ela quem também produz esses produtos e alimentos exigidos por uma fatia cada vez maior de consumidores exigentes e conscientes na adoção de hábitos saudáveis na sua alimentação. Não só produz, mas lucra com o negócio que vai de vento em popa, cresce a todo vapor e tem um futuro promissor pela frente.
Saudabilidade
Essas mudanças todas, com um olhar voltado à qualidade de vida das pessoas – pela sociedade em geral, médicos, nutricionistas e especialistas, fabricantes e indústrias de alimentos e veículos de comunicação -, fizeram, ao longo do tempo, florescer uma nova filosofia e um novo conceito sobre alimentação e saúde. É o conceito da SAUDABILIDADE.
Saudabilidade é o comportamento de pessoas que trazem para a sua rotina hábitos alimentares que incluem alimentos mais naturais e saudáveis, que melhoram a saúde e o funcionamento do organismo, que evitam o aparecimento de doenças crônicas causadas pela má alimentação e que, por esse conjunto de benefícios, trazem qualidade de vida, bem-estar e longevidade.
Da parte dos fabricantes e indústrias de alimentos voltados a esse mercado, respeitar o conceito da saudabilidade representa estar update com os desejos do consumidor e com a tendência dos hábitos alimentares da população. Mais que isso, é transmitir confiabilidade, qualidade, sustentabilidade e ética.
A nutricionista funcional Giovanna Giacomini – da Gionutri -, especialista em orientações alimentares com foco na saudabilidade, contribuiu com a Revista Checkout dando esclarecimentos sobre o assunto:
“A saudabilidade alimentar é uma tendência que veio para ficar. A procura por produtos saudáveis cresce de maneira constante: pesquisas mostram o aumento no número de pessoas que estão dispostas a pagar mais por alimentos e bebidas livres de ingredientes indesejáveis . Essa nova realidade, há alguns anos, vem estimulando e também sendo um desafio às indústrias de alimentos. Pois ao mesmo tempo em que elas são obrigadas a se adaptar a esses novos hábitos do consumidor – com a criação e diversificação das linhas de produtos sem aditivos químicos, e a reformulação de embalagens e rótulos – , elas também alcançam excelentes oportunidades de crescimento no mercado (com os novos produtos) e alinhamento aos modernos conceitos do setor alimentício.
A tendência da sensorialidade (prazer nos alimentos) também deve ser levada em conta na saudabilidade, e pode ser proporcionada por meio de produtos com maior valor agregado ( gourmet , premium , delicatessen); e de variações de sabores e texturas proporcionadas por alimentos exóticos , produtos étnicos , culinária de regiões específicas; e pela harmonização de alimentos e bebidas , com forte apelo sensorial . Os consumidores desejam novos produtos e novas experiências em torno da alimentação, ao mesmo tempo em que estão cada vez mais preocupados com a saúde e a forma física – o que tem aumentado a demanda por produtos que sejam saborosos, mas também saudáveis. Essa busca por alimentos mais saudáveis é uma tendência que apresenta avanço na ciência , em busca de longevidade e qualidade de vida, com alimentos sem sal, adição de açúcares, lactose e glúten; e mais integrais, verduras, legumes e vegetais…”
Os Supermercados na Saudabilidade
Os consumidores querem cada vez mais comprar alimentos que tenham a ver com a sua filosofia de qualidade de vida; as indústrias criam e fabricam alimentos para atender o desejo desse público; e os supermercados são a linha de ponta para o fornecimento e a venda desses produtos condizentes com o conceito da saudabilidade. Essa cadeia é perfeita para mostrar a importância do setor supermercadista nas necessidades presentes e perspectivas futuras, quanto ao abastecimento à uma população que vem mudando seus hábitos alimentares.
Portanto, há que se adequar as lojas de forma estratégica e física para atender esse mercado de produtos saudáveis que cresce e aparece. Nesse sentido, vale pesquisar para saber que produtos são esses que o consumidor quer; cabe saber quais desses produtos os concorrentes estão oferecendo; é bom inovar com marcas de credibilidade nesse segmento; é inteligente investir no marketing e propaganda para anunciar que a empresa se importa e está adequada para atender esses consumidores preocupados com saúde e alimentação saudável.
Dito isso, preparar um local específico para esses produtos é fundamental – com prateleiras, gôndolas, corredor e iluminação de destaques. Segundo pesquisas, ainda, é importante separar a seção desses alimentos dos demais. Outro fator é manter colaboradores treinados e que entendam dos produtos para orientar os consumidores. Importante também é oferecer frutas, legumes e verduras em embalagens prontas para o consumo, já cortados e higienizados – isso faz toda a diferença para quem procura praticidade e saúde de uma vez só.
Vale saber, sobretudo, que os jovens são um público-alvo nesse horizonte de novos produtos que está aí – afinal, são eles buscando o novo e quebrando velhos paradigmas. E assim como as indústrias vêm se adaptando e crescendo nesse mercado, o mesmo acontece com o varejo que mergulha junto nessa onda. Aqui vale lembrar que só nos últimos anos, no Brasil, o mercado de alimentação saudável, ligado à saúde e bem-estar, cresceu 98%. Ou seja, o lucro com o investimento nessas vendas para um público mais consciente, é também saudável para as empresas igualmente conscientes. Portanto, há muitos benefícios a serem colhidos pelo supermercadista que apostar nesse público diferenciado, com ações também diferenciadas pelas suas empresas.
Para dar mais dicas aos varejistas que pretendem estar por dentro dessa onda da saudabilidade, a Revista Checkout colheu sobre o tema o depoimento da nutricionista Lilian Aguiar, do Grupo Estrela Azul Supermercados:
“Não é de hoje que cuidados com a saúde e bem-estar recebem atenção da população brasileira. Porém, de 10 anos para cá os hábitos alimentares vêm ganhando destaque e notoriedade para indivíduos comuns, no que diz respeito a escolhas mais assertivas no momento da compra de gêneros alimentícios.
Isto porque, alergias alimentares (principalmente em crianças), intolerâncias (mais acometidas em adultos), e filosofias de vida como veganismo e vegetarianismo estão em expansão no cenário nacional, e refletem diretamente no consumo alimentar desses grupos. Além, é claro, da procura maior por alimentos orgânicos e fresh cut.
Toda essa predisposição traz um aspecto positivo em relação à melhoria geral dos hábitos alimentares, qualidade nutricional da dieta consumida e saudabilidade da população.
Como forma de adaptação às novas mudanças nos gostos e necessidades dos consumidores, o comércio varejista – composto pelas Mercearias, Supermercados, Atacadistas, entre outros – precisa estar atento a essas tendências de consumo, e avaliar se está, de fato, atendendo às expectativas dentro de suas lojas.
É preciso, para isso, abrir espaço para novas linhas de produtos orgânicos, sem glúten, zero lactose, veganos e etc., além de conciliar melhorias nos padrões de produção, apresentação desses itens, principalmente embalagens e atendimento. É interessante pensar em um colaborador preparado, munido das informações de cada tipo de alimento – como origem, procedência, rastreabilidade, indicação de uso e até modo de preparo para orientar esses consumidores que estão cada vez mais exigentes. Ter esse profissional presente hoje, na instituição, é parte integrante da estratégia de negócios das empresas.”
Diante de tudo o que foi exposto aqui sobre saudabilidade, cabe ao setor supermercadista estar à frente do seu tempo para tomar as melhores decisões para gerir o seu comércio, aumentar suas vendas e atuar na sociedade com a responsabilidade que lhe é conferida, todos os dias, no importante tema que é alimentação. Uma alimentação que seja com a consciência de todos – consumidores, fabricantes e varejistas – em busca de uma vida mais saudável e longeva aos habitantes do nosso planeta.
Afinal, já que “somos o que comemos”, então sejamos, todos juntos, muito melhores.