Eliseu Gardin
Desde sua introdução na sociedade, o plástico trouxe uma série de vantagens e facilidades no dia a dia das pessoas. Por suas características de flexibilidade, leveza e durabilidade, ofereceu enormes vantagens no acondicionamento e conservação de alimentos na forma de embalagens, reduzindo o desperdício.
Para quase metade de todo o plástico produzido no mundo, a vida útil termina após apenas um único uso. Embalagens e soluções descartáveis tornam-se resíduos sólidos, o que também representa um desperdício de recursos valiosos. A reciclagem de resíduos plásticos é um componente central no contexto de uma economia global circular e sustentável. E essa parcela de recuperação desses materiais está aumentando continuamente.
A reciclagem desempenha um papel importante para manter os resíduos plásticos fora do meio ambiente, mas sabemos que só isso não resolverá o problema. A única maneira de fazer isso é se houver mais PCR no sistema para comprar e usar.
Mas tornar reciclável a embalagem do produto não significa automaticamente que ela será reciclada. Isso requer que a infraestrutura esteja pronta para coletar, classificar e processar. Quando se trata de manter os plásticos longe dos aterros e hidrovias, uma das medidas mais importantes é reduzir o uso do plástico e garantir o uso de plástico reciclado pós-consumo (PCR) para evitar o uso de novos plásticos.
Por que nem todas as embalagens são recicláveis? Devemos repensar completamente o papel do plástico em nossos negócios. E esta é uma das perguntas que devemos nos fazer com mais frequência.
A necessidade de mudar hábitos de consumo para a garantia da sustentabilidade da própria raça humana é inquestionável. Mas a mudança efetiva ainda carece de estímulo. No que depender das grandes redes de supermercados, até que os investimentos são consideráveis, a começar pela oferta de sacolas retornáveis. Foi-se o tempo em que comprávamos algum produto apenas pela embalagem chamativa, hoje além de qualidade, todo o valor da marca é importante na hora de tomar a decisão de compra.
O Grupo Carrefour foi um dos primeiros a entender a importância de tornar suas lojas pólos multiplicadores de boas práticas para o consumo consciente. No Brasil, o programa Garantia de Origem começou em 1999. Hoje, são mais de 75 itens, entre legumes, verduras, frutas, ovos caipiras, queijos e carnes de 250 produtores diferentes, cadastrados e auditados. Os produtos com este selo, do campo à gôndola, são monitorados dentro de conceitos rigorosos de qualidade, responsabilidade ambiental e social.
Além das ações para a redução de sacolas, os supermercados estão implementando um programa de impacto zero. São inúmeras iniciativas e uma delas é o uso de material reciclado na comunicação visual e uniformes feitos, em parte, com fibra de PET. Os clientes que utilizam sacolas retornáveis ganham pontos trocados por vale-compras. O uso de sacolas retornáveis, confeccionadas com PET é um programa presente em vários supermercados e beneficia instituições como a Fundação SOS Mata Atlântica (Pão de Açúcar).
O que é o plástico reciclado pós-consumo?
O PET PCR (post-consumer resin) é um plástico reprocessado depois de consumido, ou seja: uma embalagem plástica que já foi usada, reciclada e agora se transformará em algo novo. Incrível, não é?
Os plásticos pós-consumo incluem os plásticos que foram coletados em programas de reciclagem residencial e comercial. É uma opção interessante para dar novos usos para esse material.
Considerada uma grande oportunidade para acompanhar as novidades e tendências do mercado, a 36ª edição da feira de supermercados Apas Show 2022, teve presença de grandes marcas da cadeia de abastecimentos e prepararam lançamentos para apresentar na feira. Foi o caso de algumas marcas que apresentaram seus novos portifólios de produtos com essa pegada mais sustentável.
Natural One
A Natural One lança embalagens fabricadas em resina PET PCR (resina pós-consumo reciclada), que chega ao mercado inicialmente nos sucos naturais laranja e uva refrigerados de 1,5 litro.
“Desde a nossa fundação, um dos nossos pilares é a busca constante por soluções tecnológicas com foco em sustentabilidade, desde a captação das frutas e vegetais até o envasamento dos produtos. A saudabilidade é uma preocupação cada vez maior dos consumidores, por isso também incentivamos que nossa rede de fornecedores invista em tecnologias que diminuam o impacto no meio ambiente, como a solução das embalagens em resina PET PCR no Brasil”, afirma Rafael Ivanisk, CEO da Natural One. Fonte: site https://mercadoeconsumo.com.br
Nestlé
A empresa teve uma iniciativa pioneira em seus produtos de iogurtes, os consumidores encontrarão nas gôndolas a linha de iogurtes Nestlé em garrafas de plástico reciclado. A Nestlé contou com a cooperativa neozelandesa Fonterra como parceira deste projeto.
Somado a isso, todas as novas embalagens terão a comunicação do Projeto Re, criado pela Nestlé em 2019, que tem como premissa REduzir, REcriar e REpensar os aspectos-chave das operações. Além disso, a inclusão do selo RE faz as pessoas repensarem suas atitudes e se somarem ao movimento de reciclagem para que possamos inspirar mais iniciativas como essa.
Antes disso, houve todo um processo de tramitação de questões técnicas e de segurança para o uso do plástico pós consumo (PET-PCR) em embalagens com contato alimentício junto aos órgãos governamentais. Contudo, não precisam se espantar, mais a frente vamos detalhar sobre a Lei.
Por que usar plástico PCR?
O plástico PCR é uma das direções importantes para reduzir a poluição plástica e contribuir para a “neutralidade de carbono”.
O PET PCR pode ser reciclado até 4 vezes sem que perca suas propriedades. Ou seja, podem ser feitas, por exemplo, 4 embalagens diferentes a partir da mesma matéria-prima. Pensando em longo prazo e no impacto ambiental, isso é simplesmente maravilhoso.
Desde a invenção do plástico, os produtos plásticos inegavelmente trouxeram grande comodidade aos seres humanos. Mas o problema que acompanha o lixo plástico não deve ser subestimado. Os seres humanos geram cerca de 30 milhões de toneladas de resíduos plásticos todos os anos, dos quais 14,1 milhões de toneladas são resíduos de embalagens plásticas, e apenas uma pequena parte é descartada adequadamente.
Os benefícios de usar PCR em sua embalagem
Com a preocupação ambiental atual, há muitos benefícios em usar plásticos reciclados, tanto para o seu negócio quanto para o meio ambiente. Se você se engajar em práticas de sustentabilidade, pode gerar uma imagem positiva e melhorar o retorno econômico para seu supermercado e seus produtos vendidos.
Seguem abaixo alguns benefícios dos plásticos reciclados:
- O plástico não precisa ser fabricado repetidamente, o que resulta em menos poluição.
- A reciclagem é a melhor forma de ajudar a reduzir os problemas cada vez maiores de aterros, com relação aos volumes de resíduos que neles se acumulam.
- A quantidade de energia consumida para a fabricação do plástico é reduzida.
- As emissões de CO₂ associadas ao produto são reduzidas.
Aqui estão algumas vantagens mercadológicas no uso do PCR:
A primeira vantagem do plástico PCR é seu princípio sustentável, como acabamos de pontuar. Um segundo que deve ser apontado é sua qualidade. Muito se pensa que um plástico de reuso não é eficaz. No entanto, tudo dependerá do uso que o plástico PCR ganhará na nova forma após passar pelo processo de modificação para reutilização.
- A reciclagem de plástico pode ajudá-lo a construir fidelidade à marca e mudar a percepção do cliente.
- Os consumidores se sentem mais otimistas com relação a um produto ou fabricante cujas embalagens usam plástico reciclado.
- Usar material reciclado cria oportunidades de marketing e relações públicas associadas à redução do impacto ambiental.
Além disso, o engajamento de consumidores em programas de reciclagem por meio de ações educacionais de consumo consciente, o uso de ferramentas de avaliação de ciclo de vida e o apoio a ações para melhoria do gerenciamento de resíduos sólidos a fim de prevenir o descarte de lixo nos mares.
Mas… então como identificar o PCR? Ele se assemelha muito ao PET virgem, e por isso ficaria difícil identificá-lo somente pela aparência da embalagem. Nossa dica de hoje e de sempre: conheça a marca de quem compra, a utilização do PCR com certeza será comunicada.
Supermercados catarinenses adotam ações sustentáveis e aliviam aterros
Nos últimos anos, o setor supermercadista brasileiro tem se esforçado para diminuir o desperdício de resíduos. As ações contra o acúmulo de alimentos nos aterros sanitários e em razão da correta destinação dos recicláveis. A área em que mais ocorre perdas e prejuízos é a de frutas, legumes e verduras (FLV). Por conta disso, ela precisa de uma melhor gestão e investimentos para reduzir a quantidade de comida que vai para o lixo.
Tomando consciência desse fato, os supermercadistas catarinenses já estão tomando atitudes que têm indicado perspectivas confiáveis ao setor varejista do restante do país.
A rede Hippo, uma das mais conhecidas do estado catarinense, foi a primeira a aderir a práticas de “Lixo Zero” e há seis anos tem transformado seus detritos orgânicos do dia a dia em adubo e usado esse composto natural na própria horta de 7 mil m2 criada pelo supermercado. Os recicláveis produzidos pelo mercado como papelão e plástico são enviados para a Associação e Catadores de Materiais Recicláveis de Florianópolis.
Ações semelhantes aos supermercados catarinenses acontecem em lojas do interior de São Paulo. A rede São Vicente, por exemplo, destina 120 toneladas de papelão, 9 toneladas de plástico e 6 toneladas de vidro e metais para programas de descarte adequado.
No quesito ambiental, todas essas grandes mudanças das redes varejistas podem aliviar o acúmulo de resíduos nos aterros sanitários, principalmente os orgânicos. Fonte: site https://www.reciclasampa.com.br/artigo/supermercados-catarinenses-adotam-acoes-sustentaveis-e-aliviam-aterros
Utilização de embalagens de plástico no grab and go
Por definição, o termo grab and go pode ser traduzido do inglês como “pegar e partir”. Um negócio dessa modalidade fornece produtos selecionados, preparados e embalados com o intuito de serem consumidos em um curto período.
Recentemente, estabelecimentos como supermercados têm oferecido essa opção a seus clientes. Como o alimento já vem pronto, é necessário que a embalagem adotada permita que o cliente examine o produto e, ao mesmo tempo, seja segura o suficiente para viabilizar o transporte.
O plástico é um dos materiais mais utilizados devido à sua capacidade de proteção contra os agentes contaminantes do ambiente externo. Porém, isso vai mudar com a tendência mundial da preocupação com o aspecto socioambiental. Por isso, ao se empregar esse tipo de embalagem, também é importante que o supermercado adote políticas de preservação do meio ambiente.
O presente e o futuro do PET PCR no Brasil
No Brasil, o uso do PET PCR é voluntário. Isso significa que sua precificação, no longo prazo, estará alinhada à resina PET virgem. Entretanto, o custo de produção da resina PET PCR é muito superior ao custo de produção da resina PET virgem devido, sobretudo, às diferenças de escala produtiva. Isso faz com que a margem de lucro do setor de reciclagem seja mais baixa e, como consequência, não atraia novos investimentos.
Uma das maneiras mais efetivas para aumentar a taxa de reciclagem de PET é a regulamentação da Lei nº 12.305/10 – PNRS, que tornaria obrigatório o uso de uma quantidade mínima de resina PET PCR nas embalagens de PET, como forma de comprovar a logística reversa. Assim, veríamos uma crescente demanda pela resina PET PCR, o que geraria uma precificação desvinculada à da resina virgem, impulsionando uma reação em cadeia que atrairia novos investimentos e crescimento do setor.
Legislações como essa não são novidade: o Reino Unido e alguns estados dos Estados Unidos já possuem políticas de obrigatoriedade de uso de PET PCR em novas embalagens PET e esperam aumentar suas taxas de reciclagem com essa medida.
No Brasil, foi regulamentado pela Resolução da Diretoria Colegiada RDC n. 20/2008.
Este regulamento é harmonizado no âmbito do Mercosul e segue diretrizes adotadas pela Comunidade Europeia e pelos Estados Unidos para obtenção e uso deste tipo de material.
Em entrevista com Thiago Pietrobon, Diretor da Ecosuporte Assessoria Ambiental, falou um pouco da Lei: “A PNRS é, sem dúvidas, um marco na gestão dos resíduos e de 2010 para cá, temos avançado na interpretação e regulamentação desta lei. O uso de PCR ainda deve avançar nas regulamentações, assim como a aplicação de vários instrumentos legais e econômicos, já previstos na mesma lei, que precisam entrar em prática para viabilizar e acelerar as mudanças necessárias nos processos produtivos.”
O Brasil ainda está desenvolvendo sua infraestrutura de coleta de lixo, o material reciclado pós-consumo não está ainda consolidado. Thiago conta que “Este é um mercado que ainda vai crescer. Por um lado, vai crescer à medida que desenvolvemos novas tecnologias e melhoramos as normas para viabilizar sua aplicação. Hoje mesmo encontra-se em discussão a norma sobre uso de PCR em sacolas plásticas, analisando resistência, aplicabilidade e alternativas para eliminar qualquer risco para cada aplicação.
E por outro lado, pelo avanço das políticas públicas que não só buscam reduzir o descarte, mas também garantir a destinação ambientalmente correta para os resíduos plásticos. Estas políticas vão desde Planos municipais de Combate a Mudanças Climáticas, até Programas das Nações Unidas para limpeza de oceanos”.
Considerando que o objetivo final é aumentar a demanda por plástico reciclado, o que, por sua vez, aumentará as taxas de reciclagem. Temos que ter em mente que não estamos fazendo isso sozinhos, os consumidores estão se tornando mais conscientes da necessidade de reciclar. “Os programas conhecidos nascem dos fornecedores, uma vez que a gerência sobre tipo de embalagem e estratégia de divulgação vem da indústria. Todavia o comércio e varejo tem importante parcela de contribuição neste processo, ao fazer a ponte entre o produto e o consumidor. O comércio pode atuar de forma mais consciente ao ofertar produtos com as características que fazem sentido para sua estratégia, seu público. Bem como, pode levar as demandas de seus clientes para que os fornecedores possam atuar de forma mais assertiva”, explicou Thiago.
Aposte na reciclagem para seu supermercado
O plástico é visto como um vilão do meio ambiente por muitas pessoas. De fato, seu uso desenfreado e sem consciência nas últimas décadas justifica esse pensamento. No entanto, atualmente, há uma grande preocupação mundial para fazer o reaproveitamento do material. Muitos supermercados usam os colaboradores para ajudar nessa questão sustentável. Programas e palestras que orientam os colaboradores para separar o lixo corretamente, se tornam aliados nessa conscientização. Os novos funcionários já observam essa conduta e ajudam a manter esse trabalho.
Contudo, adotar a lógica de economia circular, exige mudanças em toda a cadeia, incluindo a sociedade, passando pelo uso e descarte consciente do consumidor, pelo design dos produtos, pela utilização de matéria prima renovável, políticas públicas, inovação e desenvolvimento da reciclagem.
O momento atual tem demandado das organizações dos mais diversos portes um pensamento guiado a cooperação dentro de sua cadeia de valor. Conscientizar os atores e promover iniciativas que contribuam para o ecossistema tem se tornado vital para aquelas que desejam manter seu protagonismo.
“E neste processo todo, cada um tem seu papel. Hoje, muito da Cadeia de Reciclagem não flui pois ainda é pequeno o volume de resíduos destinado à reciclagem. A maior parte da reciclagem vem do pré-consumo. Por meio dos Planos de Gerenciamento de Resíduos obrigatórios para indústrias e grandes geradores, já temos a separação daquilo que não chega ao consumidor. Nosso desafio está mesmo no chamado pós-consumo. E para esta roda girar precisamos do consumidor fazendo a separação, levando a um ponto de coleta ou cooperativa, caso não exista um sistema de coleta na sua região, explicou o Diretor Thiago Pietrobon”.