Uma tendência nos contratos de trabalho que ganha força ano após ano é o de temporários. Os números confirmam essa realidade. Pesquisa da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Assertem) mostra que, somente no primeiro semestre de 2020, 1 milhão de novas vagas nesta configuração foram preenchidas em todo o país, um aumento de 47% em comparação a 2019. Nos três primeiros meses de 2021, a expectativa de crescimento se confirmou: alta de 25%, passando de 644.500 para mais de 805 mil.
Diante da incerteza da economia e da regulamentação do trabalhador temporário, muitos gestores têm preferido buscar candidatos neste perfil e, com isso, conseguiram:
- Manter em alta as contratações
- Acelerar o ritmo de crescimento das operações
- Reduzir custos com o departamento pessoal
As novas regras da reforma trabalhista, que entraram em vigor em 2018, proporcionaram mais segurança para patrões e empregados. Esclareceram pontos importantes dessa relação, reforçando deveres e direitos de gestores e colaboradores. Este novo acordo contempla, por exemplo, a justificativa da contratação, o período do vínculo, o valor estipulado e a garantia da segurança e da saúde do contratado. A nova lei ainda deixa claro que o temporário não é empregado CLT, mas, sim, pessoa física que presta serviço para outra empresa que precisa de força de trabalho transitória.
Supermercados preparados
Os supermercados são um dos principais setores que empregam nesse modelo. Somente para as festas do último fim de ano foram contratados 14 mil trabalhadores temporários de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Dados da Associação Paulista de Supermercados (APAS) também confirmam esse quadro: entre março e abril de 2021 deste ano houve aumento de 900% na contratação de temporários nas lojas do estado de São Paulo quando comparado com o mesmo período do ano passado.
São várias as razões pelo interesse maior nos temporários. A principal delas é o aumento da demanda: 80,6% dos trabalhos temporários no primeiro semestre de 2020 foram para suprir o maior movimento das lojas. Nos supermercados, datas comemorativas sempre levam mais pessoas para compras de produtos específicos, o que faz com que novos trabalhadores sejam admitidos somente para cobrir os dias de maior movimento. A sazonalidade é fator determinante para a chegada de novos profissionais.
Outro motivo para a contratação são as ausências de efetivos por um longo período como férias e afastamentos médicos. Atividades que não podem ser assumidas por outros membros da equipe demandam contratações de novos profissionais por tempo determinado. Mas é importante reforçar que, apesar do período pré-estabelecido, muitos temporários permanecem na empresa após o fim do contrato. Em média, de 20% a 40% deles são efetivados; em anos anteriores, esse número girava em torno de 15%. Muitos recrutadores acreditam que o índice elevado se deve à confiança de que a empresa crescerá nos meses seguintes.
Com a pandemia ainda em curso, os temporários passaram a ser profissionais mais requisitados. São dois os motivos principais. O primeiro é para garantir segurança aos gestores diante da instabilidade econômica. Nos contratos temporários os encargos trabalhistas são mais brandos e podem ser encerrados antes da data inicialmente planejada. Basta acertar os dias trabalhados e quitar as férias proporcionais. Ainda, quando desligados, as empresas ficam isentas de pagar os 40% de multa de FGTS.
A outra razão é em respeito aos trabalhadores pertencentes ao grupo de risco da Covid-19. Profissionais acima de 60 anos ou com comorbidades foram afastados de seus postos para que outros, com condições físicas mais adequadas para o momento, pudessem substituí-los. Em 2020, 2% a mais de jovens de 18 a 25 anos foram contratados temporariamente em comparação a 2019. Isso mostra que, por não serem grupos de risco, tiveram suas admissões ampliadas.
Algumas redes conseguiram preparar seu time de profissionais para atender a demandas específicas. No caso da pandemia, várias marcas optaram por reforçar a equipe de temporários. Esse foi o caso do GPA. Em março do ano passado, o grupo contratou cinco mil funcionários para as lojas físicas e para o e-commerce. O objetivo era que a operação não parasse, especialmente em um período em que a população precisava abastecer suas casas. O Carrefour também ampliou em cinco mil funcionários o time de lojas, muitos deles temporários. A ideia era expandir os serviços por conta do maior movimento. A maioria dos cargos era para auxiliar de perecíveis, agente de prevenção, recepcionista de caixa, padeiro, peixeiro, técnico em manutenção e açougueiro.
A tendência é que esse modelo de contrato aumente. Além de cobrir situações específicas, o temporário passou a ser visto como um profissional estratégico, especialmente em projetos de curto prazo. Com maior flexibilidade de admissão, esse perfil é sinônimo de contratação rápida e de produtividade acelerada.