De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), enquanto
821 milhões de pessoas passam fome no mundo, um terço dos alimentos produzidos são
desperdiçados diariamente – e não apenas na mesa do consumidor final, o descarte ocorre também
nas cadeias produtivas e de distribuição de alimentos, gerando danos para produtores, comerciantes
e consumidores.
Na contagem geral, o Brasil está na lista dos dez países que mais desperdiçam alimentos no mundo,
com perdas de aproximadamente 30% de tudo que é produzido para o consumo, o que gera um
prejuízo para a economia de quase 940 bilhões de dólares por ano.
Perdas na cadeia produtiva
Com uma análise bastante detalhada sobre o processo de produção – água, fertilizantes, dinheiro,
mão de obra, combustíveis, tempo – e do dano ao próprio alimento -, o pesquisador José Abrantes,
da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), explica em seu livro “Brasil: O País dos
Desperdícios” como o que o país descarta chega a 150% do PIB.
Na colheita, por exemplo, o desperdício é de 10%. Durante o transporte e armazenamento o valor
chega a 30%. No comércio e no varejo a perda é de 50%, enquanto nos domicílios, 10% vai para o
lixo.
A Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) também divulgou dados que mostram o
desperdício de R$ 3,6 bilhões em alimentos somente de 2020. Segundo o órgão, o motivo é a
necessidade da troca de estoque devido ao prazo de validade dos produtos não adquiridos pelos
consumidores.
Iniciativas tecnológicas podem ajudar
Para que esses índices sejam revertidos, gestores do setor têm visto na tecnologia uma importante
aliada nessa empreitada. Um bom exemplo é a criação de aplicativos que medem o índice de tudo
aquilo que vira lixo sem necessidade. A ideia é que produtos com prazo de validade próximo sejam
identificados com antecedência para que possam ser destinados aos consumidores com preços
abaixo do praticado nas prateleiras. A alternativa foi inspirada nos moldes europeus, onde o
descarte de alimento é reduzido ao máximo. França e Itália já possuem aplicativos destinados à
venda de produtos próximos da validade e a intenção é trazer o formato para o Brasil.
Outras soluções que podem diminuir o desperdício são: maior controle do estoque, revisão dos
processos operacionais e educação do consumidor. Um bom exemplo é o da rede supermercadista
francesa Intermarché, que lançou a campanha “Inglorious Fruits & Vegetables”. Nesta ação, os
alimentos que apresentam alguma imperfeição no visual, mas que estão aptos para consumo,
custam até 30% menos do que aqueles visualmente perfeitos.
Aqui no Brasil, uma ação feita pelo Carrefour, chamada de “Únicos”, serve como base para
entendermos a aplicabilidade de iniciativas como a da rede francesa. No Carrefour, a campanha tem
o objetivo de vender alimentos com qualidade, mas fora do padrão tradicional de estética. Essas
frutas, verduras e legumes têm desconto também de 30%, seguindo o exemplo do supermercado
francês.
A educação contra o desperdício também é um caminho
Dados alarmantes indicam a urgência de ações educacionais para conscientizar a população e as
empresas sobre o problema. O estudo Global Índice do Desperdício de Alimentos, desenvolvido pelo
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), divulgou informações importantes
sobre o cenário.
Em 2019, o desperdício global de comida foi de aproximadamente 23 milhões de caminhões de 40
toneladas totalmente carregados que, se fossem enfileirados, poderiam dar sete voltas na Terra. Isso
sugere que 17% da produção total de alimentos do mundo foram para o lixo. Deste montante, 13%
do total vêm do comércio, como redes de supermercados ou lojas.
Neste sentido, torna-se fundamental a conscientização dos profissionais envolvidos em toda a
cadeia produtiva, visto que da plantação ou das indústrias até a mesa do consumidor, o caminho que
os alimentos percorrem é longo, e quanto mais cuidado nesse trajeto, menor o desperdício final.
Por exemplo: a diferença de temperatura de um produto no período que abrange a colheita, a
embalagem e o transporte até o destino final pode gerar prejuízos, isso porque certos alimentos
precisam de constante refrigeração e, quando chegam ao destino, sofrem choque térmico, o que
acelera seu metabolismo e leva à queda na qualidade.
Isso nos faz perceber que, quanto mais informações sobre os detalhes desse processo os
colaboradores envolvidos tiverem, menos chances de ocorrer desperdício no futuro. Em junho, a
ABRAS divulgou projetos que visam a aumentar o relacionamento dos supermercados com a
agricultura familiar, setor que emprega mais de 3,5 milhões de famílias. A entidade informou que
técnicos vêm sendo capacitados para fazer o acompanhamento dos processos nas cooperativas.
Além disso, educar o consumidor também pode ser o foco. Os supermercados, por terem uma
comunicação direta e contínua com o dia-a-dia da comunidade, podem alertar sobre a importância
de evitar que alimentos bons vão para o lixo. Para tais comunicações, de acordo com experiências
anteriores, o argumento da perda de dinheiro funciona muito. E o varejista também consegue
mostrar para o público que os alimentos que não possuem o melhor aspecto estético, também
possuem qualidade. Mas, para todas essas iniciativas funcionarem, é necessário comprometimento
e estratégia, afinal, a rotina de loja possui inúmeros outros processos importantes e que merecem
atenção.
Contar com empresas especializadas em treinamentos e organização de políticas institucionais e
estratégicas é fundamental. Especialistas podem gerenciar ações com uma comunicação objetiva e que a empresa fornece informações de maneira didática, aplicável e transparente – pontos
necessários para garantir resultados práticos.
Por fim, investir no capital humano e na gestão profissional é algo que impacta diretamente na
saúde dos negócios e, neste caso, na saúde do planeta. Ou seja, quanto mais qualificados os
colaboradores estiverem sobre as práticas que evitam o descarte equivocado de alimentos, menor
será o desperdício.